sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Soneto ao Tempo que Não Para no Tempo



O tempo vai seguindo medianeiro
em passos largos, passo de minutos;
deserto de relógio altaneiro,
solares, balaústres, diminutos.

O tempo leva o vento esvoaçado
em voos infinitos, voo rasante;
planície de vislumbre inalterado,
olhares que se perdem no distante.

O tempo leva a vida e a velhice
compondo um soneto com crendice;
é tempo e o intento é sorte em poesia

sem tempo de esquecer a melodia
que toca e resvala em sua sandice
relendo ao relento o tempo que eclodia.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Sobre Meu Amor Inquebrantável



Eu tenho um amor inquebrantável,
descrevo-o em linhas desmesuráveis
pois, é um amor tão fragoroso
qu’eu me entrego de corpo e alma.

Eu tenho um amor de olhos pitônicos,
descrevo-o em olhares admiráveis
pois, nossos olhares impermistos se olham
com ardor e fulgor inenarráveis.

Eu tenho um amor tão querençoso,
descrevo-o em versos amoriscados
pois, meu poema é vero e amantético
qu’eu me derramo em presunção

que é o coração em maravilhamento,
que é minh’alma em excrescência,
amor qu’eu acalento dia pós dia
par’eu poder fulgorar em iridescência.

Eu tenho um amor que amo à brava,
tão vasto qu’é amor inesgotável,
que deixa meu elã tão raro e nímio
ao ponto d’eu gozar do meu desfastio.


Jonas R. Sanches

Cálices de Orvalho e Borboletas Ausentes



Cálices de sereno adocicado
em um amanhecer de luas órfãs
ouvindo Bob Dylan com estrelas
e cubos de gelo na sala de estar;

as tangerinas estão chorando,
meu cão tem nome de artista,
minha bicicleta não usa cadeado
enquanto o sol toma banho no jardim.

Cálices de veneno atormentado
em um amanhecer de flores sãs
ouvindo The Yardbirds com cometas
e pudins de leite no fundo do quintal;

as berinjelas estão de greve,
meu pássaro fala vinte e cinco palavras,
eu navego em um barco de papel
enquanto as marés afogam suas mágoas.

Cálices de um vinho envelhecido
em um amanhecer sem borboletas
ouvindo Cyndi Lauper com mistérios
e manjares turcos na janela do arrebol;

as melancias estão rolando,
minha poesia é pura imaginação,
eu canto o canto mavioso do sabiá
enquanto degusto um naco de inspiração.


Jonas R. Sanches
Imagem: Salvador Dali

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Reflexos de Poema



O poema refletiu no espelho d’água
como o narciso que brotou venusto,
o seu revérbero antigo e vetusto
contava fábulas de um amor augusto.

O poema refletiu nos olhos dela
que aguardava alva por seu amor,
o seu afeto tão repleto de ternura
desvencilhava um belo canto com ardor.

O poema refletiu no gotejar da chuva
em gotas translúcidas que banhavam a terra,
foram então sementes tenras a germinarem
em pétalas velutíneas e cores de mil tons.

O poema refletiu a alma do poeta
em vislumbramento do seu coração,
a poesia então brotou da mão asceta
e ecoou infinidade, luz e sensação.


Jonas R. Sanches 
Imagem: Ali Ilker Elci

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Do Ventre da Terra



No ventre da terra
o segredo qu’eu busco,
feito sal e mercúrio
embebido em lambrusco;

a vertigem da origem
do espírito justo,
que repousa entranhado,
erudito e vetusto.

No ventre da terra
o gérmen da vida,
e a luz que é sentida
é o amor recompondo

o devaneio eloquente,
vasto e soberano,
d’onde o lábaro soergue
o brasão de mil anos.

No ventre da terra
as eras estão retidas
em seus fósseis antigos,
resquícios d’outras vidas

que passaram depressa
deixando marcas profundas,
hoje apenas lembranças
de outrora, ciranda oriunda.


Jonas R, Sanches
Imagem: Google

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Música Primeva



A música no silêncio da manhã
me acalma o profundo d’alma,
é o som do pensamento em profusão
enquanto o corpo dorme calado.

A música silenciosa da manhã
tem suas primeiras notas no pássaro
que desperta-me em mavioso canto
enquanto inda ronda o comedimento.

Agora a música são flores desorvalhando,
o primeiro inseto ziguezagueia a flor,
ouço o som da cor da pétala calada
e a terra inanimada é a vida em provisão.

Agora a música já contém carros,
vozes incontidas, passos da multidão,
cães ladram incessantemente ao portão
enquanto o poeta desperta ao cotidiano.


Jonas R. Sanches
Imagem: Grigor

domingo, 25 de janeiro de 2015

Sobre o Frescor da Manhã



Depois da chuva
na fresca manhã
de flores orvalhadas,
de pássaros álacres;

insetos joviais drapejam
entre folhagens alvissareiras,
nuvens lépidas adejam,
cinéreas formas pardacentas.

Depois da chuva
as cores no âmbito
se misturam vivazes,
o sol nasce galerno;

a brisa é fagueira
e lava o rosto prazenteiro
que lança o olhar a divagar
no pitoresco vislumbramento.

Depois da chuva
o poeta aboleta-se à varanda
e num gesto costumeiro
empunha a pena anavalhada;

o pensamento é longínquo
e dança no lusco-fusco da aurora,
seu elã papalvo descortina
incauto o zéfiro rudimentar.


Jonas R. Sanches 
Imagem: Alfred de Breanski Jr.

sábado, 24 de janeiro de 2015

Versos Preciosos



Do diamante fiz o verso mais brilhante
e do rubi o verso que eu esqueci,
da esmeralda fiz um verso que respalda
e da lápis-lazúli um verso de patchuli.

Da safira fiz o verso que transpira
e da aquamarine o verso que me ilumine,
da turmalina fiz um verso à menina
e da turquesa fiz um verso à natureza.

Da hematita fiz o verso que grita
e da crisocola fiz o verso da escola,
da obsidiana fiz um verso que inflama
e do heliodoro fiz o verso que eu adoro.

Do olho de tigre fiz o verso que denigre
e da ametista fiz um verso naturalista,
da ágata fiz o verso de ouro e prata
e do coral fiz o verso do bem e do mal.

Foi então minha poesia preciosa
enriquecida com as gemas mais bonitas,
foi então minha poesia de pedrarias
toda disposta em um colar de maravilhas.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Centelha da Humanidade



Já fui florista nos jardins da Babilônia
e fui guerreiro nos montes da Macedônia,
já fui aluno na escola de Alexandria,
fui sacerdote na Igreja de Antioquia.

Já fui herege nos bacanais de Sodoma
e fui soldado sem escrúpulos de Gomorra,
já fui um mago poderoso da Caldéia,
segui o Cristo nas praias da Galileia.

Já fui cigano livre em Constantinopla
e fui hierofante nas pirâmides do Egito,
já fui rebelde nas cruzadas em Beirute,
eu já fui homem, já fui santo, já fui mito.

Já fui poeta recitando a Aristóteles
e fui morcego na caverna de Platão,
já fui rabino na sinagoga com Sóstenes,
fui Daniel na cova com o leão.

Já fui de barco navegando com Colombo
e fui na esquadra conversando com Cabral,
já fui índio enganado pelos colonizadores,
entre maias e astecas eu fui Quetzalcóatl.

Hoje eu sou um singelo trovador,
sou dessa história apenas o narrador
que vislumbrou o tempo passando o tempo,
hoje eu sou o pó da terra carregado pelo vento.


Jonas R. Sanches
Imagem: Corbis

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Simplismo Bucólico



Ao fundo o apito do trem
que o vento trás à procela,
pardais a gorjearem também
em um vai e vem na janela;

bem longe incansável martelo
segue o ritmo do marceneiro,
bem-te-vi salpicando o marmelo
e um sabiá lá no abacateiro.

Tarde quente de ares bucólicos
e um sapo a coaxar melancólico;
no beiral pombos a arrulhar
e um trinca-ferro a chilrear eufórico;

na lagoa um pato a grasnar
e um grilo a cricrilar anafórico,
no jardim tem abelhas zunindo
e o sol no horizonte cai meteórico.

O poeta descerra as cortinas
com letras simplórias de contemplação,
eis então o nascer de uma poesia
sobre mais um dia que vai com a estação.


Jonas R. Sanches
Imagem: Lisa Wood

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

A Espera de um Cometa de Ilusões



Vou esperar o sol partir para compor
sobre as luzes arroxeadas do arrebol,
fulgor translúcido derretendo ao calor;
calor intenso onde cada um tem o seu sol.

Vou esperar a noite cair e a inspiração
deixar brilhar no lusco-fusco da estação
que exagera no ardor e na sensação,
chaga a suar os ventrículos do coração.

Vou esperar a estrela azul bruxulear
para gozar do meu momento com você
e quando o canto do urutau cadenciar
vamos deitar na Via-Láctea e esperar

mais um cometa que depressa a regressar
deixa seu rastro de fogo e gelo na escuridão,
mais um planeta onde possamos habitar
para plantarmos sonhos em um jardim de ilusão.


Jonas R. Sanches
Imagem: Stellarium

domingo, 18 de janeiro de 2015

Pássaro da Alma



O pássaro da alma
voa tal qual Ícaro
mas, não se derrete ao sol;
voa além da aurora e do arrebol
esticando suas asas doridas
estigmatizadas por feridas
que calejam e deixam cicatrizes

mas, nas matizes das nuvens
as nuances das vertigens...
Voa pássaro, voa bem alto,
voa em suas raízes anímicas
e carregue para bem longe
as vozes que ecoam devaneios;
carregue em seu elã a flor da poesia.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

sábado, 17 de janeiro de 2015

Vislumbres Oníricos



Vislumbres oníricos
de um sonho qualquer,
momentos empíricos
de um malmequer

inspiram o eu lírico,
meu elã que é satírico
talvez panegírico
quando é aquilo que quer.

Caminhos telúricos
trilhados por nós,
talvez anafóricos
em poema pictórico

de linhas douradas
ou em céu eufórico
numa madrugada
com sol metafórico.

Vislumbres oníricos
despertam o eu lírico
em algoz catafórico,
momentos entéricos

de sonhos quiméricos,
poema alegórico
ou fantasmagórico;
vislumbres de mim.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

No Ósculo da Morte



No ósculo da morte o exício
que carrega a alma à transição
e a expõe ao intermúndio e o exílio
para compor sua dor em solidão.

No ósculo da morte o decesso
e o espírito vaga no averno
contemplando sua vida de excesso,
recompondo à dor do inverno.

No ósculo da morte o estio
e a seca da vida é comiseração
que cavalga perene à insurreição
da centelha de um mundo vazio.

No ósculo da morte o prantear
e o banzo que fica é a amenta
sob aquele que insiste ao pesar
enquanto a psique se alimenta.

No ósculo da morte o confranger
e o gosto mordaz da inexistência
mas a alma troa por clemência
refazendo o intento de viver.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

As Novas Cantigas do Coelho de Alice



O coelho branco reacordou
e tirou Alice de sua cartola
ela sonolenta se recostou
sob a amanita com o sol de esmola;

a cantiga então recomeçou
com os acordes de outrora,
mas a melodia se renovou
com as novas cores da aurora.

Alice não colha os redodendros,
o coelho tem a chave dos sonhos,
as cartas do baralho estão dançando
as mortíferas valsas de estanho;

corra coelho, sorria saltitando,
baile com Alice a dança do infinito,
percorra seus caminhos vislumbrando
as notas de um violeiro erudito.

Corra Alice, não morra,
baile com os pirilampos ao som da chuva,
percorra as páginas das masmorras
onde aprisionaram o conto de fadas;

cavalgue o coelho branco e as estrelas
mas, não se esqueça  de amanhecer
para ver a fantasia cantada alvorecer
e depois novamente adormeça na enseada.


Jonas R. Sanches
Imagem: Disney

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Liberdade Religiosa



Católico, judeu ou cristão;
protestante, crente ou muçulmano;
islamista, budista ou hinduísta;
seja fiel, não seja radicalista.

O radicalismo não passa de hipocrisia,
pois, há um só Deus, há um só sol,
o resto é invento, é pura ironia;
minha religião é a voz na poesia.

Krishna e Buda, Cristo Jesus,
Maomé, Gandhi ou Lutero;
foram ciência junto ao espírito austero,
não guerrearam e morreram pelo clero;

hoje o homem mergulhou na ignorância,
pensa ser sábio, ser o dono da razão,
mas, eu lhe digo, meu ilustre amigo,
a religião é dentro do teu coração;

pois ele é o templo, teu vizir fortificado,
é o caminho por onde acharás a luz,
pois ele é o templo do teu eu santificado,
é onde habita o segredo que te conduz.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Jardim de Poesias



A letra foi a semente
da minha semeadura
germinou a poesia
cristalina com alvura;

no jardim foi espichando
os seus galhos metafóricos,
suas flores desabrochando
em caules alegóricos.

Meu jardim de poesias
é fonte de inspiração,
nele eu planto todo dia
sementes do meu coração;

nas manhãs bebo do orvalho
alojado em suas pétalas,
nas noites vivo os olores
emanado em suas vísceras.

Meu jardim de poesias,
de analogias e pecados
com as águas da fonte pura
é aguado e purificado;

lá é eterna a primavera
e a andorinha faz verão,
lá não há morte nem guerra
somente o algoz da sensação.


Jonas R. Sanches
Imagem: Beatrice Emma Parsons

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Da Escassez da Chuva e dos Pássaros Noturnos



Tentei chover na madrugada
mas fez-se manto estrelado,
mas fez-se noite enluarada,
fez-se o poema enclausurado;

mas revoou um curiango
lá na torre do campanário
e, o galo cantou anunciando
o repontar que ia alvorando.

Tentei chover na madrugada
pois a soalheira era insuportável,
tanto calor que fervilhou
meu pensamento inenarrável;

mas revoou uma coruja
e transbordou o seu piado
a duetar com o bacurau
com seu estribilhar sagrado.

Tentei chover na madrugada
mas, fez-se letras e poesia
mas, fez-se doce a melodia,
fez-se um poeta amodorrado;

e o céu gritou a escuridão
antes do ressurgir da aurora,
compus então essa canção
ao meu amor que acorda agora.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

domingo, 11 de janeiro de 2015

Do Voo Entre as Flores e os Sonhos



Um dia desses saltei
em um abismo de flores
e minhas asas de pétalas
floriram antes do chão;

então eu sobrevoei
pelas planícies de Cícero
cantando cânticos doces,
desvendando o segredo de Ícaro.

Um dia desses saltei
em um abismo de sonhos
e minhas asas oníricas
se abriram antes das flores;

então eu sobrevoei
pelas caatingas desertas
e ali vociferei
minhas cantigas incertas.

Um dia desses saltei
em um abismo de letras
e minhas asas poetas
voaram sonhos e pétalas;

então eu sobrevoei
por matagais estrelados
e por ali eu cantei
os meus encantos dourados.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

sábado, 10 de janeiro de 2015

Quando Dobram os Sinos das Catedrais



Os sinos dobraram
nas catedrais do tempo,
os ventos carregaram
sua música ao relento;

os fiéis peregrinaram
pelas vias do tormento,
os sacerdotes choraram
a comunhão e o intento.

Os sinos dobraram
nas catedrais antigas,
os ventos prantearam
pelas vidas exauridas;

os sacerdotes caminharam
pelas sendas destemidas,
os fiéis comungaram
para curarem as feridas.

Os sinos dobraram
nas catedrais perdidas,
os ventos cessaram,
cessou a música da vida;

sacerdotes e fiéis definharam
entre as flores escondidas,
os poetas então sanaram
a insanidade com cantigas.


Jonas R. Sanches
Imagem: Paulo Juntas

Inextricável



Inextricável a alma do mundo
com seus pecados infinitos,
inextricável o nó de um marujo
enlaçando a garganta do mito.

Inextricável o olor do feitiço
com seu incenso sobrenatural,
inextricável o teor de um grito
diante da cena sobrenatural.

Inextricável a flor no labirinto
com suas pétalas de cor carmim,
inextricável minha poesia
quando ela explica o que resta de mim.

Inextricável a opção do caminho
de um peregrino na encruzilhada,
inextricável a oração do menino
quando sua fé vale tudo ou nada.

Inextricável como um redemoinho
varrendo pra longe as pás do moinho,
inextricável o fogo do sol
quando se dispersa pelo arrebol.

Inextricável as letras do pergaminho
em língua em desuso no tempo atual,
inextricável é a luz de um poema
quando narra a cena de um dia normal.

Inextricável o clarão da lua
prateando os campos, iluminando a rua,
inextricável a escuridão do planeta
quando não tem lua e não tem estrelas.

Inextricável é o nosso amor
que com seu teor não pode ser desfeito,
inextricável é o nosso clangor
quando sem remorso deitamos no leito.


Jonas R. Sanches
Imagem: Natalie d'Alberloff of Blaugustine

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Do Tempo dos Tempos Infindáveis



Falo sobre um tempo inóspito
onde a mente derreteu-se ao sol
e, a letra liquefez-se em mar
então a poesia primeva abrolhou.

Falo sobre um tempo sem mais tempo
onde o açodamento é o passo
e, a letra é o afã da eternidade
então a poesia exordial reverdeceu.

Falo sobre um tempo que parou
onde a inercia aclimatou-se
e, a letra foi a soada de mil vozes
então a poesia preambular emergiu.

Falo sobre um tempo de pensamentos
onde a argúcia fez-se inescusável
e, a letra foi adágio intangível
então a poesia rudimentar foi aforismo.

Falo de um tempo imensurável
onde o imorredouro está a resfolgar,
onde a letra é a reticência desmesurável,
onde o poeta revigora o seu elã.


Jonas R. Sanches
Imagem: Salf Artspirit

No Atilho da Madrugada



É madrugada e o poeta
se entrega ao silogismo,
pelo teto da alcova
vai em busca do contínuo

que perfaz a iridescência
sem haver mais indecência
somente à luz áurea e pura
transmuda a alma em candura.

É madrugada e a estrela
se entrega ao raciocínio,
pelo ancho sustentáculo
vai em busca da nitescência

receptáculo da quintessência
onde subsiste o infinito,
onde o hodierno é mito
e o vetusto é a regência.

É madrugada e o poeta
se entrega a perspicácia,
pelo copioso intento
vai em busca da literacia

e na letra do imensurável
torna-se inenarrável,
sua nuança insopitável
trás à tona a flor do lácio.

É madrugada e a estrela
espiona o leito do poeta,
sua aclaração incerta
é consumida pela aurora

que desperta sem demora,
que desperta o mundo inerte
e naquilo que se sente
muita coisa se converte.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

De uma Alvorada de Céu Nimboso



O dia amanheceu nubiloso,
nuvens plúmbeas bailavam ao vento
que ventava tão livre, isento,
e no peito um algoz em rebento;

um rebento de luz e poesia
que na estrela azul insurgia
bailando versos pelos universos
que continham o segredo da vida.

O dia amanheceu brumaceiro,
no horizonte o dilúculo majestoso,
embasamento azul de aquarela
retratado espalhado na tela

de um pintor, de um poeta romeiro
que transpõe em matizes diáfanas
alusões surrealistas bombásticas
que irisam vertigens idílicas.

O dia amanheceu e o caminho
instaurou-se entre luzes egrégias
alumbrando o alvedrio que é distinto
do poeta enveredando seus mitos;

metáforas anafadas de alegorias
que digressionam sobre almas e o sol
dardejante rutila em mil céus
inda oculto ensejando o arrebol.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Lá no Galho da Mangueira



Lá no galho da mangueira
um sabiá se aconchegou,
seu olhar triste e profundo
ante um mundo sem amor,

do seu peito de repente
um arguto som soou,
foi momento glamoroso;
foi seu canto mavioso.

Lá no galho da mangueira
pousa pardal e corruíra
e quando chega o tico-tico
se inicia a cantoria,

coleirinha e bigodinho
são contrastes à estação
e o melro com seu esmero
faz dueto com o tecelão.

Lá no galho da mangueira
na noite canta o urutau
que matreiro se camufla
em um pedaço de pau

e a coruja-buraqueira
em noites de lua cheia
com olhar de sinistreza
pia junto à tordoveia.

Lá no galho da mangueira
o esplêndido uirapuru
trina seguindo a rendeira
e também o taperuçu;

cantam, trinam, estribilham,
enchem a vida de alegria,
com suas cores e maravilhas
inspiram minha poesia.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

Alchemical Luminum



Necessito beber do sangue da terra
e secar as lágrimas de sal em mercúrio,
necessito colher o orvalho dos sábios
e embeber as mãos no suor de Saturno.

O cadinho na chama transpõe o segredo
e a chama transmuta a alma do mundo
burilando minúcias desse novo enredo
e galgando os degraus desde o submundo.

Necessito do estágio hermético do sol
e do leite que escorre do seio da virgem,
necessito burlar as entranhas do céu
e no inferno enclausurar a vil vertigem.

O cadinho na chama revela o oculto
e a chama ilumina tal qual candeeiro
revelando o mistério velado da vida
que é a busca do iniciado sorrateiro.

Necessito a bebida da verve imortal
e o cálice puro do elixir da existência,
necessito o poema que liberta do mal
e a letra alva e alquímica da resiliência.


Jonas R. Sanches
Imagem: Adam Mclean

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Chuva Benvinda



O sol escorreu em forma de chuva
refrescando a tarde de Catanduva,
caiu perfeita, como uma luva
então nasceram versos molhados

que brincaram no tilintar das gotas
e a rimas seguiram novas rotas,
deitaram-se em rios outrora secos
enquanto mil novas flores brotam

em pastos tão vastos, pensamentos
que vislumbravam-se com essa visão,
andorinhas bailavam chuviscando
em danças sincrônicas, perfeição.

O sol deitou-se em leito chuvoso
enquanto a tarde foi agradabilíssima,
enquanto meu riso foi jocoso,
enquanto a chuva foi belíssima.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

V.I.T.R.I.O.L



A vela que queima,
a enxurrada que corre,
uma chuva de bênçãos,
o fogo que consome;

os meus passos guardados
na esfinge do sol,
minha magia calada,
cantada no Estige, buscando o VITRIOL

que separa dois mundo,
vivo e espiritual
e, na lenda a centelha
da luta do bem e do mal.

A vela ainda queima
e a poesia discorre
falando de quem vive,
falando de quem morre;

A vela ainda queima
no leito gélido do sol
que se deita atrás da montanha
beijando as entranhas de um arrebol.

A vela se apaga no centro da terra
e a pedra se oculta no fundo da alma;
a vida então segue singela
bebendo do elixir da existência eterna.


Jonas R. Sanches

domingo, 4 de janeiro de 2015

O Mistério das Flores



Percebi que as rosas não pranteiam
seus olhos são espinhos sob o sol
enamorando as bromélias do batel,
e nas papoulas o sangue do arrebol.

Percebi na chuva o olor noturno
que emanava de uma dama no jardim,
dama da noite que bailava o manacá
em uma valsa dedilhada pelo alvacá.

No amanhecer eu percebi a flor de lis
se misturando aos ramos da abissínia
era uma dança exótica de floração
e a ixora cantava ao ritmo do coração.

Percebi que germinavam os mistérios
encerrados herméticos na brugmânsia
e os lírios definhavam em seus martírios
invejando o narciso e a flor de lótus.

Percebi que as rosas padecem no sertão
mas, há a beleza da rosa do deserto
que esconde em si o segredo do incerto
enquanto o poeta é apenas contemplação.


Jonas R. Sanches
Imagem: Salvador Dali

sábado, 3 de janeiro de 2015

No Teu Olhar Vi o Puro Amor



Eu vi no teu olhar um novo sol
iluminando de esperança o porvir,
me aquecendo à luz do arrebol,
revigorando a vontade de viver.

Eu vi no teu olhar meu coração
refletindo com ardor minha paixão,
peguei tua mão para poder caminhar,
me enlacei a ti para te amar.

Eu vi no teu olhar um grande amor
iluminando meu caminho como o sol,
curando minha profunda dor,
tirando minh’alma da escuridão.

Eu vi no teu olhar o meu futuro
brilhando raro, abraçado ao teu,
eu vi no céu um amor terno verdadeiro
que minha vida e minha mente enterneceu.


Jonas R. Sanches