terça-feira, 30 de setembro de 2014

Quando a Alma se Cala



E se o verso se calar
ouça o som do seu silêncio
e deixe a vida transpassar
o momento de inspiração.

Não se cale verso, não se cale,
grite rimas de todas as letras,
grite a poesia de todos os corações
e caminhe calmo e sereno

pelas vias que felicitam
àquelas almas buscadoras
que se enveredam pelas pelejas
sem ter medo de falhar.

E se o espírito se calar
ouça a voz de Deus falar
dentro do seu corpo-templo,
ela sussurra como o vento

e refrigera as aflições
fortalecendo os pés cansados
que trilham sós e desconsolados
pelas notas da canção.


Jonas R. Sanches
Imagem: Charnine Wisdom

Jacaurélio e a Lenda da Casa Feita de Doces



Lá vem ele pela estrada, faça sol ou faça chuva, vem pela relva molhada pra debaixo da embaúba onde espera a criançada pra contar suas aventuras. Vem com passos vagarosos se apoiando na bengala, vem com seus olhos brilhosos e sua cartola amarelada, muitos já o conhecem com sua calda esverdeada, lá vem ele Jacaurélio com sua boca pluridentada.
Ele chega e a criançada já vai logo perguntando:
- Qual é a história de hoje? Nós estamos esperando. – E Jacaurélio paciente, palitando os seus dentes começa um conto novo.
- Hoje eu contarei a história de um tempo pavoroso, quando dois jacarezinhos abandonados na floresta em meados de agosto encontraram uma casa, colorida e enfeitada, toda feita de doce.
- Eles eram irmãozinhos, uma menina e um menino, Jacamaria e Jacajãozinho nasceram muito pobrezinhos e por falta de alimento seus pais sem pestanejo os deixaram ali sozinhos.
A criançada escutava com toda atenção do mundo e Jacaurélio continuava o seu conto quase absurdo.
- Os dois estavam famintos e vendo aquela casinha, suculenta e saborosa, caíram de mordidinhas, foi então que lá de dentro saiu uma velha jacaroa, seu nome era Cuca e fingia-se de boa, ela vendo os dois pequenos foi logo os convidando:
- Entrem cá meus dois pequenos que um bolo estou assando. – Os dois então maravilhados com um gesto inocente, passaram a língua nos dentes e com a boca cheia de água a Cuca foram acompanhando.
Jacaurélio concentrado e imerso em recordação continuou a narração:
- Então lá dentro da casa os dois se fartaram de guloseimas, eles pegaram no sono com suas barriguinhas cheias, então quando acordaram ficaram pasmos e assustados, Jacajãozinho estava enjaulado e a menina feita escrava, cozinhava para a Cuca malvada e seu irmão ia engordando.
Jacaurélio que era esperto foi fazendo seu suspense e a história de outros tempos deixava as crianças contentes.
- A intenção da bruxa velha era de comer o menino, mas primeiro deveria alimentar a reveria aquele franzino pequenino, mas sua visão era fraca e todos os dias apalpava do menino a sua pata, para saber se o coitado já havia engordado para depois entrar na faca.
-O menino era velhaco e encontrou um pé de pato que dava para ela apalpar, e a Cuca inconformada apalpava e resmungava:
- Que diacho de menino, tanto come esse franzino e não há meio de engordar.
- Jacamaria que era esperta foi bolando um dos seus planos e em um dia ensolarado enquanto a Cuca estava cochilando libertou seu irmão querido, então os dois depressa fugiram e a Cuca se revoltou, seu estomago gritou e ela ali ficou sozinha.
E a criançada com ar curioso quis saber qual foi o fim da velha bruxa da floresta, se ela viveu ou se morreu. Jacaurélio então de pronto aos pequenos respondeu:
- Hoje em dia da velha Cuca inda ouvem-se histórias, mas a casa na floresta foi devorada pelas formigas e já onde hoje a Cuca mora, não existe quem o diga.
Jacaurélio sorridente da criançada foi se despedindo, já era tarde de domingo e o sol logo se deitaria, já aquela criançada esperaria a próxima alvorada para se juntarem debaixo da embaúba, fizesse sol e até chuva para escutarem uma nova história.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Instruções para Colher Sonhos antes que a Lua acorde as Estrelas



Com uma luva de estilo poético
e uma vara de taquara metafórica
deve-se galgar os degraus ilusórios
de uma escada de poemas prolixos;
na cintura amarre uma algibeira
trançada com linha de bordar firmamentos;
também tenha em mãos uma foice
amolada em uma quinta-feira
com uma pedra de elixir dos sábios;
quando avistar os frutos oníricos
lance-se sem receio e estenda suas asas,
sobrevoe e escolha os sonhos mais tenros,
colha-os entre o arrebol e o crepúsculo,
agora, é só deliciar-se com os sabores
exóticos e esdrúxulos da fantasia.


Jonas R. Sanches
Imagem: © Copyright 1998-2009 - kboing Radio OnLine - Todos os direitos reservados

Das Manhãs de Quando Você é Minha Inspiração



Amanhece e a inspiração
está ao meu lado e ela sorri
dizendo bom dia e ela me abraça
em silêncio de amor.

Amanhece e junto a nós
há os pássaros e as flores
lançam seu perfume no ar
embevecendo a sensação.

Amanhece e o sol vibrante
desponta supremo no horizonte;
e ela é o sol que iluminou
as trevas que rondavam minha senda.

Amanhece e os versos continuam
como os rios que correm caudalosos
e as rimas são ipês frondosos
que em primaveras vem nos sombrear.

Amanhece e a tristeza se dissipou,
a tristeza se desfez desde quando
conheci o teu olhar, o teu amor;
agora sou de poemas coloridos.


Jonas R. Sanches

domingo, 28 de setembro de 2014

Poesia em Branco e em Cores



Poesias em branco,
sentimento vazio,
a lua vai junto da noite

por caminhos infinitos
e, o poeta é a inércia
de um olhar contemplativo

que vigia o cosmo,
que vigia as estrelas adormecidas
em lúdicas madrugadas

por onde curiangos piam
taciturnos e alvoroçados;
poesias em cores sublimes,

sentimentos vastos,
a lua é o beijo no firmamento
que sobrevoa os sonhos

e, o poeta é o próprio sonho
sonhado diariamente,
soprado em ventos antigos,

tão antigos que perderam-se no tempo,
tempo de poesias em branco
ou todas as cores em um último verso.


Jonas R. Sanches
Imagem: Rémy Donnadiem

Das Curtura di Minha Terra



Quando amanhéci aqui nu meu sertão
passo um café muito mió di baum,
arrio a sela no meu alazão,
o esparmeio e corto o estradão
qui é cercadu dumas fro bunita
intão eu canto um canto istradero
qui é orvido inté nu istrangero,
canto miúdo du chão brasilero.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

sábado, 27 de setembro de 2014

Redondilhas de Amor e Ósculos



O dia beijando a noite,
um ósculo amanheceu
do sol raio, luz e açoite
e a rosa nua alvoreceu
mas, padeceu na foice
e a pétala esmoreceu
em um jardim distinto.

À noite beijando o dia,
um ósculo, um arrebol
da estrela, luz solitária
despedindo-se do sol
deixando olor que exala
na dama do meu jardim
que noturna sorri a mim.

O beijo e a namorada,
um ósculo de paixão
laços na madrugada
profundos no coração,
minh’alma entrelaçada
a tua em sua contemplação,
e é o amor que em nós fulgura.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Poesia em Fluxo



Deveras eu assentir à poesia
pois, ela inda escorre dos seios da vida
e alimenta o ser; corpo-espírito,

fundindo os pormenores da beleza
do movimento da lida,
da serenidade da morte,

ou, apenas o silêncio e o ocaso...
Impetuosamente a poesia em mim,
fulgurosamente plácida

ou revoltosa como o mar
que beija a praia em fluxo constante
e, carrega entre suas ondas a saudade

daquele que partiu,
nostalgia que ficou em rebento
e se escondeu na flor solitária do sertão.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Do Princípio da Incógnita



Pluridiversificação de devaneios,
eclosões neologistas poéticas,
erupções vastas vocabulares,
sempiternamente inspiratórias.

A poesia complexa emerge das cinzas
dos restos mortais de uma fênix ressuscitada
que flamejante sobrevoa os pensamentos
em uma dança incessantemente ideal.

Poeta esdruxulamente pictórico
entre pinceladas de verbos inanimados,
sequelas de um poema filantrópico
com vestígios de prodígios misantropos.

Dicionários centenários inacabados
tentam explicações plausíveis impossíveis
sobre a palavra que indetermina o sentir;
sobre a alma de cancioneiros e trovadores.

Poeta silenciosamente gritante
entre ecos que ribombem miscigenações
entre versos fluídos e olhares inertes
e, o final é apenas o princípio da incógnita.


Jonas R. Sanches
Imagem: Salvador Dali

Engendrando Poesia ao Amanhecer



A palavra solta entre os versos
pronta à engendrar a poesia
arquitetada pela estrela recolhida
e replantada nos céus do meu jardim.

A palavra dispersa em pensamento
que rocamboleia dando luz ao verso
engendrado na epígrafe do universo
que no poema é um gesto infinito.

A palavra rebuscada intumescida
pela umidade de um olhar choroso
que livre escorre pelos rios da vida
em seu caminho longo e tortuoso.

Palavreados versificados poeticamente
paridos do ventre poético naturalmente
em leito desfeito e refeito, até rarefeito;
de um jeito só meu, repleto de trejeitos.


Jonas R. Sanches
Imagem: Saturno de Edu Monteiro

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Jeito Faceiro



Ah!... E quando é a poesia
que esmorece em mim,
eu prolifero pólen e letras
em meu ínfimo jardim

que é jardim primaveril
de flores extasiantes
e, nada mais é como foi antes
de te conhecer, mas agora

o tempo se demora
em meu olhar
que se perde ao contemplar
seus olhos castanhos;

seu jeito faceiro de me conquistar
todos os dias,
e por toda a vida
eu contigo quero estar.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Sementes de Amor e Primaveras



Havia sementes
de flor e de amor,
de pensamento e de poesia,

de lua e de sol,
de noite e de dia;
plantei-as no meu jardim,

germinaram
camélias e açucenas,
paixões irreversíveis,

devaneios e versos,
arrebóis e auroras;
agora meu jardim é primavera

onde todas as cores amanhecem,
onde todas as flores resplandecem,
onde a vida tornou-se alegria;

agora germinou minha poesia
à você, que é a flor
que inspira a minha vida.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Cavaleiro da Luz



O Cavaleiro e a Poesia da Rosa
Mística, combatendo sua Cruz
no bom combate e a busca segue;
Caminhos que enlevam à Jerusalém
Celeste e a bebida é a benção
Eterna e a Paz Profunda,
Sua capa o envolve em mistérios,
Mistérios embebidos no Graal...
Cavaleiro que cavalga liberto
dos grilhões, Natureza Cósmica
do Homem-Iniciado;
Cavaleiro da Rosa na Cruzada
Cingido em Armadura Celeste
E sua Espada é a Cruz dos Mestres.
A Cruz e a Rosa, iridescentes...
A Candeia agora é a Alma que brilha,
Os passos seguem junto à Cavalaria.


Jonas R. Sanches
Imagem: AMORC

Ruptura Simbolista



Poesia de poeta nefelibata
que voa com a mente transcendente
entre nuvens de verve insensata,
entre o verso subjetivo decadente

que vem de outras flores;
maléficas flores de Baudelaire,
entre demônios e terrores;
entre as agonias e as dores

inexplicáveis e misteriosas;
mistérios fúnebres de Mallarmé,
marginalizações umbralinas de Verlaine
ou, apenas o amoralismo de Rimbaud

e influências sentimentais crescem
entre um verso anômalo e outro
verso, inconscientemente consciente
nos devaneios últimos de Pessanha.


Jonas R. Sanches
Imagem: Gustave Moreau

domingo, 21 de setembro de 2014

Dos Versos que Esqueci em Algum Sonho



Acordei procurando pela poesia
matutina, esqueci-a em meu sonho
entre outros símbolos e emblemas
que fulgiam como um sol e anjos
esvoaçavam com guitarras celestiais,
acordes e timbres de outras esferas
anunciavam que era tempo de amanhecer.

Amanheci e no caderno na escrivaninha
um resquício da poesia que esqueci
entre outros versos rabiscados e rascunhos
de uma vida que passa breve, vai depressa
e acuda àquelas flores entre as estrofes;
sonhos de uma vida que passa ligeira
diante dos olhos que contemplam a dor

e, a menina que contava as estrelas
sonhava com um amor verdadeiro,
divagava entre as sensações e as emoções
mas, amanheceu e seus versos
misturaram-se aos meus, então
foi uma poesia só nossa que alvoreceu
e, quando o sol surgiu ela sorriu no meu coração.



Jonas R. Sanches
Imagem: Google

sábado, 20 de setembro de 2014

Chuva Mansa e Algumas Observações



Fiquei ali,
aguardando a chuva chegar
e havia o relâmpago
e o ribombar do trovão.

Precipitou-se em mim
a chuva e a poesia,
misturaram-se
como fossemos um só.

Fiquei ali,
os pássaros estridulavam,
maritacas na goiabeira e algazarra,
joão-de-barro vigiava.

Precipitou-se em mim
o sonho e o plúmbeo,
cinzenta tarde agradabilíssima,
flores regozijam-se fartas.

Fiquei ali por anos,
séculos passaram e criei raízes
tão profundas no solo fecundo;
então o amor pariu sementes.

Precipitou-se em mim
o carinho vindo de ti
e, os jardins sorriram eternidades
e germinaram as ramas de eu e você.

Jonas R. Sanches

Devaneios Guardados que Aguardaram a Chuva



Há muito o dia não era tão chuvoso,
a chuva precipitou de plúmbeas nuvens
e, quando olho através dela é diáfano;
todas as cores escorrem pela enxurrada.

A muito as árvores não bebericavam
com fartura de um deserto em chamas
e, após o sol flores emplumam novas ramas;
todas as flores eram pétalas de cetim.

A muito a poesia não se encharcava,
a chuva exacerbada desfez meus rascunhos
e, a tinta das palavras pintaram sonhos;
as sementes no canteiro logo germinarão.

Há muito tempo atrás eu colhi devaneios,
guardei-os em uma caixinha revestida de veludo
vermelho, e foi o sangue que a chuva fez à terra;
a terra bebeu do próprio sangue e o homem germinou.


Jonas R. Sanches

Noite Chuvosa com Manhã de Açucena



Da noite chuvosa a manhã resplandece
e o brilho no olhar da açucena rejuvenesce
com suas pétalas alvas de pura candura,
com seu perfume que acalma com iluminura.

Da noite chuvosa a manhã de saudade
e o sabiá estridula no pé de abacate
com sua voz maviosa de canto em bemol,
com suas penas lustrosas vigiando o arrebol.

Da noite chuvosa a manhã recomeça
e a açucena de pétalas a desorvalhar
com seu charme de flor campestre altaneira,
com sua forma perfeita vem à vida enfeitar.

Da noite chuvosa a manhã é poética
e os versos mimosos são pura nostalgia
com suas letras de gretas e fantasias,
com a alma do poeta livre a voejar.


Jonas R. Sanches

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Tem que Haver a Poesia



Tem que haver a destreza no verso,
seja hipotético, real ou fantasioso;
tem que haver o poeta sentimentoso
para dar cor ao som e luz à melodia.

Tem que haver inovação e olhar lustroso
quando de um vislumbre em inspiração;
tem que haver a alma e a elucidação
daqueles momentos cardíacos; sensação.

Tem que haver o poético, o platônico atônito,
tem que haver e reaver o princípio atômico
que não faz poema e nem escreve poesia,
somente esconde em si as trevas e a luz do dia.

Tem que haver na poesia metáfora e analogia,
tem que haver no amor paixão e simpatia;
tem que haver poesia, tem que haver alegria,
tem que haver um final grafado com primazia.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

Jacaurélio e o Ouro do Velho Oeste



A madrugada se despedia no horizonte, e lá vinha ele novamente, Jacaurélio já acenava lá de longe e a criançada reunida na embaúba, estava ali fizesse sol ou fizesse chuva e Jacaurélio sempre chegava contente com seu sorriso espesso de pluridente, para contar o seu causo diário, que tirou de junto à sua cartola no armário de pensamentos antigos e recordações que retumbavam dentro dos corações, de Jacaurélio e daqueles que o escutavam.
Foi se achegando e a criançada cumprimentando:
- Olá, bom dia, como estão? Já preparados? – E a criançada em um grito junto entoado:
- Estamos sim, esperando uma nova história. – E Jacaurélio sem enrolo, e sem demora, foi logo desbravando suas memórias e começou contar a nova narrativa:
- Ouçam crianças, essa é outra história da minha vida, essa eu vivi no velho oeste americano, junto comigo estava o Jacarlão I, o pioneiro da construção das ferrovias, que foi o ponto da história daqueles dias, dias sinistros onde a lei não vigorava, e tudo era resolvido no duelo, mas quem diria, no gatilho eu era belo, minha rapidez era de dez homens atirando juntos.
E Jacaurélio fez-se em pausa e foi lembrando para poder com mil detalhes ir contando e, a criançada olhavam todas curiosas e duvidosas, então ele continuou a prosa:
- Naqueles tempos ouve a corrida do ouro e Jacarlão encontrou o ouro de tolo que o levou rapidamente a ruína, mas eu como um bom trapaceiro, vendi a mina por um bom bocado de dinheiro, então foi quando começou nossa perseguida, pois o bando do Zé Coiote só queria era dar cabo as nossas valiosas vidas; mas, nós fugimos com destreza deles todos, até que então encontramos ouro de verdade, o que nos tirou da nossa calamidade e devolveu-nos até certo tanto de respeito.
Em seu olhar distante Jacaurélio divagava, até que veio uma pergunta desconfiada de Jacarlinho que era um bocado curioso:
- Como é que depois de terem encontrado ouro, vocês vivem hoje em um pântano lodoso? – E Jacaurélio que era esperto que é o diabo, foi respondendo e continuando a história, que vivamente ia surgindo na memória, tão viva que ele se sentia ainda lá.
- Achamos ouro, mas, junto dele vieram os inimigos que duelaram sem ter sucesso com meu gatilho, mas houve um dia em que nada deu mais certo; em uma aposta o meu filho Jacarlão, perdeu o nosso pedaço de chão e foi então que a sorte nos deu as costas, mas, no oeste tivemos muitas aventuras que contarei a vocês outro dia, pois hoje já se vai à luz do dia e eu vou junto dela para minha taboca.
E empunhando sua bengala foi partindo, com sua cartola e seu terno de linho, mas em sua mente reviravolteava muita lembrança daqueles tempos de fartura e de bonança que infelizmente já ficaram bem lá para trás.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Categoremas Poéticos



Poesias repletas de categoremas
que enunciam em voz de paradoxo
o cerne ressurgindo em teorema
no pensamento contínuo heterodoxo.

Poesias amanhecidas aristotélicas
recheadas de sensações platônicas,
perplexas indagações homéricas
sobre as quimeras dantescas.

Poesias estridulantes e mansas
como os gorjeios de uma cotovia
que bebe água na beira do remanso,
que molha os versos com sua primazia.

Poesias alhures sobre o transcendental
como as escalas das notas divinas
que alternam entre sustenido e bemol,
que estilhaçam na rocha pura melodia.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

Jacaurélio e os Filhos do Nilo



Enquanto o dia bocejava, lá vinha ele... Jacaurélio, no olhar brilho de esmero, ele vinha com sua bengala, cortando pensante o chão da estrada, de olho na embaúba, de olho na criançada esperando alvoroçada pela história de hoje.
- Lá vem ele! Está chegando – grita o pequeno Jacarlinho, filho do velho Jacarlão III, que era bisneto de Jacaurélio e tinha quatorze irmãos.
Jacaurélio se achegou embaixo da embaúba, com sua mão acenou para saudar a criançada que com brilho no olhar, veio em coro perguntar:
- Qual história será contada? - Jacaurélio com sorriso diz:
- Hoje falarei do Nilo, onde formei a minha prole, falarei de quando formei família, falarei dos pais dos seus avôs, que ao todo foram doze e que formaram seis casais, e digo além do mais, formaram a família que somos hoje.
- O filho mais velho é Jacoleão, grande orgulho, meu varão, trouxe glórias à família e casou-se com minha segunda filha, para estender a nossa prole... Minha amada filha Jacarta!
Jacaurélio foi mais a fundo, lembrando de todo mundo, foi em mergulho profundo em direção a sua casta. Jacaurélio antigamente comandou toda essa gente lá pelas bandas do Nilo, mas fez isso com certeza e se tornou a realeza, o Grande Rei dos Crocodilos, com a ajuda de seus filhos.
Voltando do devaneio, Jacaurélio continua com a história que encanta, pois sua genealogia espanta, com tanta gente ainda viva.
- Vamos indo criançada, vou de volta com a toada e, a história vou continuando, falarei dos outros filhos, que também tiveram brilho na história da família, os próximos são Jacobias e Jacleópratra, o terceiro e quarto filhos, que formaram um casal, e reinaram contra o mal pelas areias do Egito.
Jacauréio extasiado com o que era recordado continuou a narrativa:
- Depois me veio outro casal, de muitas glórias, muitas conquistas, eram eles, Jacalexandre, também conhecido como “O Calda Grande” e Jacaroxana, eles também tiveram filhos, foram oito se não me engano, mas a histórias desses filhos, deixarei a outro plano.
Jacaurélio não se cansava e a narrativa continuava, lembrando os tempos de plenitude; pois, hoje só lhe restavam essas lembranças, compartilhadas com as crianças nesse seu ato amiúde.
- Logo após já me vieram os filhos sétimo e oitavo, esses dois tem muitas histórias, construções, feitos e glórias pelas bandas lá do Nilo, governaram essas terras, com mão de paz, sem haver guerras, foram célebres aos olhos do povo; o varão Jacancamon e àquela que foi sua esposa, Jacansenamon, tiveram filhos que reinaram em seu lugar e sua prole prosperou por muitos anos.
- Agora me falta falar somente dos meus últimos quatro filhos, que me seguiram pelos trilhos por onde a vida me levou, eles ainda estão aqui conosco, para a minha grande alegria. – ouve-se um buchicho entre as crianças, e Jacarlinho todo orgulhoso, diz:
- Um deles é o avô do meu pai! – e Jacaurélio então sorrindo concorda com a cabeça, e antes que ele se esqueça, continua com a história:
- Vou lhes dizer sobre os últimos quatro, depois disso vou me despedindo, pois o dia também está partindo e amanhã eu continuarei; mas agora como prometido, vou falar quem são os quatro filhos, que sempre amarei demais; o nono filho é o Jacarlão I que se casou com a filha Jacinta, o próximo que veio foi Jacarandú, o esposo da caçula Jacaúva, que é doce como uma pequena uva, daquelas que eu colhia em minha antiga vinha.
Jacaurélio sem fazer rodeios, empunhou sua velha bengala, vestiu a cartola amarelada e com semblante emocionado, saiu com as pálpebras marejadas, na caminhada de volta para casa, ainda remoendo em saudade, do tempo, da idade, daquelas bandas das suas recordações da mocidade.



Jonas R. Sanches
Imagem: Google

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Jacaurélio e a Arca de Noé



Era uma manhã perfumada de primavera, e lá vinha Jacaurélio pela estrada, ao longe já avistava a roda da criançada embaixo da embaúba.
Jacaurélio se aproximou e para as crianças acenou, sentou-se já pronto para a história e a narrativa iniciou.
A história que vou contar é das bandas da minha juventude, lá pelos tempos de Noé que também esbanjava fé e saúde.
Lá pelos lados da floresta, foi bem em um dia de festa, que chegou um murmúrio preocuposo; diziam que o Pai do Céu, cansado de tanto mal resolveu começar tudo de novo.
Os dias foram passando e Jacaurélio foi se informando, já sabia da história toda, bem longe de ser boato, pois escutou do bico do Sr. Feldispato que haveria até uma eleição, dizia que somente um casal de cada espécie de animal teria seu lugar para a família proliferar, seriam levados num barco, como o ventre que carrega o parto até o tempo do dilúvio secar, aos outros que restariam na floresta, terminaria fazendo festa até se afogarem nesse grande mar.
Jacaurélio ficou preocupado em ter sua amada do lado e para o barco serem escolhidos, mas foi feita uma assembleia regida pelo rei do rugido, Leonido Juba de Espicho, que resolveu fazer uma disputa, onde a sabedoria era a arma de luta, e somente o casal mais inteligente, que poderia cuidar de sua gente, seria o casal escolhido da floresta.
Jacaurélio junto de sua amada, conhecida como Jacarandira, de natureza charmosa e esguia com destreza foram os escolhidos, Noé então teve a certeza, que pelo menos a raça dos jacarés não estaria perdida.
Chegou o dia da partida, a arca ali jaz construída, entraram então em fila indiana, o pavão, o colibri e a caninana, Jacaurélio vinha sorridente, com sua boca pluridentada, as mãos dadas com a namorada, terno aos ombros e cabeça em chapéu, observava a estrutura do barco, que até disse ao Sr. Feldispato, uma obra de mão menestrel.
Desabou então o céu prometido, navegaram dias protegidos pelo barco tal qual grão-vizir, entre plúmbeas nuvens por quarenta dias, quarenta noites e muitas maresias, foi então que o sol anunciou o dia e um arco-íris então se formou.
Jacaurélio olhava maravilhado, Jacarandira, Feldispato e esposa ao seu lado, desembarcaram então nas bordas do Nilo, a vazia imensidão era um mundo tranquilo, foi então que Jacaurélio ficou conhecido, por todas as bandas como O Rei do Nilo, mas a realidade ia bem além daquilo, Jacaurélio tornou-se o Rei dos Crocodilos.
A roda de crianças olhava extasiada, imaginavam se a história era realmente verdade; Jacaurélio então empunhou a bengala, vestiu sua cartola e pôs os pés na estrada; no outro dia estará ali novamente, com sorriso nos dentes na sombra da embaúba, contando suas histórias que encantam; histórias que se não fosse à boa memória de Jacaurélio se perderiam nos confins do esquecimento.
Lá se vai Jacaurélio pela estrada, vai com seus passos lentos contemplando a alvorada, vai lembrando àqueles tempos de sua juventude, amiúde vai seguindo com sua cartola amarelada.



Jonas R. Sanches
Imagem: Google

Introdução à História Fantástica de Jacaurélio



Jacaurélio vinha pela estrada, com sua bengala e sua boca pluridentada, entre as ramas das folhagens as luzes anunciavam o final da madrugada; e lá vinha Jacaurélio, com sua cartola amarelada.
Todos os dias Jacaurélio, se arrumava bem cedinho, com seu terno de puro linho e muita história para contar; e quando avistavam Jacaurélio, a molecada se amontoava embaixo do pé de embaúba, alegres a lhe escutar.
Jacaurélio vinha vagaroso e contente, palitando dente por dente e, em sua mente buscava lembranças, Jacaurélio se achegava e com sua mão acenava para a roda de crianças.
Jacaurélio já estava velhinho, sua barba era de desalinho, mas era cheio de conhecimento;
Jacaurélio em sua destreza, sabedor do olor da beleza, distinguia as flores nos perfumes do vento.
Eram dias longínquos no tempo, onde havia na floresta paz e abundância, onde as noites de estrelas eram o retrato da bonança, Jacaurélio então se lembrava dos seus tempos de criança;e as crianças a sua volta, que cresciam com revolta, pela destruição que assola a floresta sem demora, pelas mãos do homem e sua ganância, escutavam calados Jacaurélio, que falava de campos belos e de rios que eram de abastança, e falava do amor entre os bichos, e vez ou outra se ouvia um cochicho, curiosidade da infância.
Passou o tempo, passaram anos; Jacaurélio já não tinha planos, as crianças haviam crescido e, Jacaurélio sem mais um amigo, se achegava à embaúba, despedia a madrugada e acolhia o novo dia, agora trazia consigo uma pena, um presente da Seriema Ana, trazia também um cadinho, embebido em tintura urucum... Jacaurélio já sem alegria, transpassava os augures do dia, solitário a escrever poesia; vez em quando cantava um passarinho, internado tranquilo em seu ninho... Jacaurélio acudia seu canto, versejando o trinar de encanto e, assim terminou a sua vida.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

Indriso Bruxuleante



No céu firmamentos idílicos
entremeio a olhares etílicos
e, na treva o ímpeto da luz;

e, na treva o espírito reluz;
e, na campa cruzes e bucolismo
e nesses versos reflexos do abismo.

A poesia como candeeiro irradiou.

O poeta bruxuleante se dissipou.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

Indriso Onírico



Seduz-me fogoso o poema
de luzes e iridescência
cantando qual canto mavioso.

Seduz-me e lança-me o dilema
das trevas da consciência
ao sol de douro majestoso.

E no ébrio é o mergulho onírico.

E no sóbrio é a ânsia do agárico.


Jonas R. Sanches
Imagem: The Eumycetozoam Project

Indriso de Merencória Ressequidão



Na poesia a ilusão da glória
se desfazendo na letra merencória;
e nos olhares espáduas ardentes

inconclusivas em espasmos das mentes
inconscientes, um súbito de urgência
de tempestade, um arroubo de clemência.

No agro gesto em terras ressequidas

um gole d’água das almas esquecidas.


Jonas R. Sanches
Imagem: Sob o Céu (original em www.arthurdurkee.net/images/JTsunset5446w.jpg)

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Das Belezas do Sertão às Melancolias do Poeta



Nas espáduas do tempo uma agra saudade
enquanto o vento soluça na fronde do angico
e o sabiá estridula nas margens do lago
onde brota a açucena embelezando o cerrado.

Nos caminhos ensombrados, minha lida;
enquanto há a formosura da pétala e a brisa
que sussurra nos ouvidos do mar colossal
a cingir em luz verde as areias d’algum atol.

Nos vestígios da alma augusta, certa paz
que vislumbra e destila lágrimas de sóis
em cadinhos esguios, tintura dos arrebóis
de um sertão exaurido de céu mavioso .

No silêncio dos rios a beleza dos vales profundos
que escondem as flores e o beijo dos colibris
borboleteando entre ramos e inspirações
que o poeta semeia em seu ramo de verso infeliz.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

Assim Vai o Poema



O poema percorreu estradas
durante as madrugadas,
foi sim, contando histórias,

cantando antigas anedotas,
poema em crescimento
carregado pelo vento,
descarregado pela mente

repleta de pensamentos
que enlevam corações
transbordando emoções,
munidos de paixões;
assim é o poema

que percorreu caminhos
às vezes tão sozinho
outras acompanhado

por um buril dourado
entalhador de letras,
pagador de promessas,
da cor a borboleta

a viver tão depressa,
do pássaro o assovio
a cantar sua seresta,
da voz do trovador
a declamar o amor;

e assim vai o poema
derramado da pena
na sua tez morena

onde ficaram os desejos,
lembranças do seu beijo,
recordações de nostalgia
que marcam o nascer do dia,

que versam à luz da alegria,
enveredado por essa via;
assim vai o poema.


Jonas R. Sanches
Imagem: ultrad.com.br

domingo, 14 de setembro de 2014

Cárcere de Passarinho



Ouço ao longe uma moda de viola
ela canta sobre um passarinho triste
que estava encarcerado na gaiola
cantando a saudade de quando era livre.

Então na mente rodopia um devaneio
sobre a maldade que é real com os bichinhos
se é tão prezada essa tal nossa liberdade
então porque tirá-la de um lindo passarinho.

Pleno domingo penso se eu tivesse asas
voaria com toda essa passarada
libertando àqueles que estão engaiolados
e faria cantorias de alegria pelo sertão.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

sábado, 13 de setembro de 2014

Indriso do Jacarandá-Mimoso



Naquele vislumbre no jacarandá
lembrei-me da flor do maracujá
e de todas as flores das poesias

que desabrocharam por noites e dias,
que acolheram o canto de um rouxinol,
que brilharam nos campos de girassol.

E lá vem ela... A donzela primavera.

Vem com suas flores... Com seus ramos de hera.


Jonas R. Sanches

Indriso do Ipê Amarelo



No ipê amarelo, esperança
natureza perfeita, de força
e a flor é sinal da estação

que chega a perfumar o coração
e a árvore ali centenária
me olha e minh’alma se espalha.

E vem chegando à estação das cores.

Primavera de flores e amores.


Jonas R. Sanches

Dos Meus Relógios Inconclusivos



Nos meus relógios inconclusivos
já não é hora da morte passar
por entre os minutos do infinito
onde os segundos já não existem mais.

Nos meus relógios o arroubo dos dias
que transcendentes em êxtase senil
carregam o tempo ao arrebatamento
deixando nos ossos sensação pueril.

Nos meus relógios é o tempo da poesia,
indeterminado instante de inspiração
qual navalha na carne e o sangue nas mãos
e o cordeiro que orou em seu sacrifício.

Nos meus relógios são versos de tic-tacs
incessantes marcando sustenido e bemol
e nas frestas do tempo o alento do sol
enlevado às frontes dos meus girassóis.

Nos meus relógios a música termina
e o compasso do som é uma circunferência
que rocamboleia na mente a indiferença
de um verso ou outro verso d’algum final.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Soneto Esporádico Emblemático



No pensamento um crepúsculo esporádico
e uma simbiose entro o homem e o tempo
que passa sem ou qualquer contratempo
em viravolteio ambíguo estapafúrdico.

Nos devaneios um arrebol emblemático
pigmentando um horizonte de alento
em tinta a óleo dando forma ao vento
em uma tela com esboço idiossincrático.

E a poesia se fundindo as mil auroras
que tem histórias de sóis e ampulhetas
engolindo na areia todas as horas;

horas roubadas de outros planetas
de céus fluídicos, luar raro simbólico,
soneto idílico de verso bucólico.


Jonas R. Sanches
Imagem:Salvador Dali